sexta-feira, 8 de setembro de 2017

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - SEXTA-FEIRA, 8 DE SETEMBRO DE 2017








COMENTÁRIO­
Scarcela Jorge
POLÍTICOS PATRIMONIALISTAS

Nobres:
Ao assumir ‘o barco desgovernado do Brasil’ com o compromisso de alavancar as transformações necessárias, Michel Temer, ‘no presente indiciado em escândalos’ sinalizou, na posse, sua disposição para enfrentar o edifício do atraso e promover alguma investida contra aquilo que pensadores liberais vêm confrontando há décadas: nossa estrutura patrimonialista. Tamanha disposição tem encontrado duas importantes dificuldades. A primeira é a conexão de figuras ligadas ao governo com os escândalos denunciados pela Operação Lava Jato, problema que pesa sobre o próprio nome do presidente e alimenta a turbulência política. A segunda, o fato de que a força que assumiu as rédeas da missão é ela própria, das mais representativas dos ranços que se dizem propensas a combater. Ambas se resumem a uma só: a falta de afinidade entre a bandeira levantada e o grupo que a desfralda, o PMDB, que nada tem a ver com ela, nem do ponto de vista histórico, nem do ponto de vista dos seus agentes contemporâneos. Não há afinidade entre a bandeira levantada, a das privatizações, e o grupo que a desfralda, o PMDB. É nesse contexto que se insere, após a proposta de “desestatização” da Eletrobrás, o pacote de 57 privatizações defendido pelo governo federal, englobando a Casa da Moeda, rodovias, terminais portuários, linhas de transmissão e aeroportos. Apesar de Temer adotar uma retórica de viés liberal, asseverando que o objetivo é “criar empregos, gerar renda e oferecer um serviço de melhor qualidade”, o que não deixa de ser uma verdade prática, efeito natural e desejável do enxugamento da máquina do Estado brasileiro, é mais do que claro que não é uma profunda convicção que o move a tomar essa atitude. Fosse esse o móvel, e não teria sido peça integrante do sistema estruturado em torno do projeto de poder do PT por tanto tempo; o que move Temer, como sempre costumou mover as transformações no país, tais como as efetivadas pelo Plano Real durante o ciclo tucano, é o frio peso imediato dos números, isto é, o imenso problema orçamentário com que precisa lidar. Tampouco algum compromisso de princípios privatistas move os aliados, do próprio partido ou de todos os outros com que precisa negociar. O desafio é que a firmeza e a capacidade de articulação desse governo que, frise-se, é o que temos para hoje consigam triunfar, mais do que sobre a histeria convencional de sindicatos e esquerdistas de passeata, sobre os interesses dos líderes partidários em seus autênticos feudos nos ativos a serem privatizados. O PTB de Roberto Jefferson, por exemplo, que vinha defendendo a redução do Estado, inclusive em suas propagandas televisivas, manifesta-se em queixumes diante da proposta de Temer, alegando que vejam a novidade! há “setores estratégicos” que não podem ser privatizados. Resta saber para quem são estratégicos, já que os petebistas comandam a Casa da Moeda desde os tempos de Lula e Dilma. O que é “estratégico” é a manutenção de apadrinhados, cargos e ingerência política! O pacote, a bem da verdade, é grande apenas na aparência, mas pouco substancial, se comparado ao montante nas mãos do Estado empresário. Condenados a celebrar o medíocre, reconhecemos que é melhor do que nada, especialmente se for um bom começo. Resta torcer para que a pequenez de nossos homens públicos e a falta de uma visão ampla a respaldá-lo, não o fracasse desta premissa.
Antônio Scarcela Jorge.

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