sexta-feira, 6 de julho de 2018

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - SEXTA-FEIRA, 6 DE JULHO DE 2018


COMENTÁRIO
Scarcela Jorge
A SOBERANIA DO ELEITOR

Nobres:
É histórica a tendência de o eleitor demonstrar sua insatisfação ou descrença votando em branco, anulando o voto ou simplesmente não comparecendo para votar. Os brasileiros costumam culpar os políticos pela inadequada condução do país e pelas mazelas existentes. Não deixam de estar certos, porém esquecem ou não se conscientizam que também são responsáveis, pois é o voto que define quem vai exercer o comando da política e do gerenciamento público. Se os mandatários não se revelam eficientes, é evidente que a responsabilidade é também de quem lhes concedeu o mandato através do voto. Todavia, pior que votar mal é a omissão, pois isso é renegar o direito de cidadania. Essa tendência, recorrente em épocas de crises políticas, nos últimos tempos tem sido facilitada pelo uso das redes sociais, que potencializam a disseminação dessa insatisfação. Antes, o desejo era apenas pessoal, isolado. Agora, com o compartilhamento, a ideia vai agregando pequenos movimentos que se ampliam criando força e adesões. Circulam boatos e “correntes” na internet conclamando os eleitores a não comparecerem à votação, ou, se comparecerem, que votem em branco ou nulo. O resultado é preocupante. Se os mandatários não se revelam eficientes, é evidente que a responsabilidade é também de quem lhes concedeu o mandato. Recentemente houve eleição suplementar para governador do estado do Tocantins. No primeiro turno, quase metade do eleitorado não optou por nenhuma das candidaturas: a abstenção, somada aos brancos e nulos, chegou a quase 50% dos votos. No segundo turno o porcentual foi ainda maior: quase 60%. Ou seja: o candidato vencedor não alcançou representatividade, não obteve apoio da maioria, foi eleito pela minoria. Até nas pesquisas eleitorais nota-se essa atitude do eleitor. Consulta sobre o pleito presidencial divulgada na semana passada mostrou que as intenções de nulos e brancos variaram entre 22% e 35%. Nessa mesma pesquisa nota-se que, faltando pouco mais de três meses para a eleição, 59% dos eleitores não citaram intenção espontânea de votar em algum candidato. Este é um reflexo do desencanto e, por consequência, desinteresse – do eleitor com a política. Entretanto, isso não contribui para melhorar a situação. Desde que se consolidou o processo de redemocratização, após o regime militar, vem ocorrendo decréscimo no interesse participativo que tivera ponto alto em marcantes campanhas como a das Diretas Já. Parece que o povo se acomodou, acreditando que tudo estava resolvido. Sem movimentos fortes e permanentes, a vigilância enfraqueceu e, aos poucos, cresceu a deterioração dos valores e dos princípios éticos, até chegar ao ponto em que estamos. E essa situação não será revertida senão com atitudes fortes, participação e cobrança. Ignorar o problema ou dele fugir é atitude leniente que só favorece os maus políticos. O eleitor não pode incorrer no erro de imaginar que votar branco, nulo ou se abster evitará que os maus políticos se elejam ao contrário, esses mesmos que estão aí se reelegerão, ou virão outros de iguais propósitos, pois sabem que o povo está alheio. A resposta é votar, e votar bem, votar em candidatos com propostas sérias, que estejam comprometidos com os anseios populares e revelem responsabilidade cívica para com o país. Contudo, isso não acontece de repente, não se resolve em cima da hora, na véspera da eleição, quando os esquemas já estão armados. Por isso tenho pregado, há muito tempo, a necessidade de efetiva participação em busca da verdadeira renovação, promovendo-se o expurgo da política viciada, alimentada por partidos cuja ideologia são alianças espúrias, interesses pessoais de lideranças negocistas que agregam, em suas bases, políticos com ideal interesseiro e aético, que depois levam esses maus princípios para dentro das instituições. E deve o eleitor ficar atento às siglas que mudam de nome para apagar a imagem corrompida, mas continuam a ser conduzidas com os mesmos questionáveis ideais. Defendo, também, que é necessário conscientizar e estimular a juventude, despertando-lhe o interesse em participar, as estatísticas que reforçam essa necessidade. O levantamento revela queda no voto jovem, queda no número de títulos de eleitor expedidos para jovens com idade entre 16 e 18 anos e que, até junho deste ano, só 40% dos jovens brasileiros nessa idade haviam tirado título de eleitor. O ingresso espontâneo no sistema eleitoral é normalmente entendido como indicador da vontade de participar politicamente dos rumos do país. A queda representa, portanto, a decisão de retardar esse direito. É importante transmitir à juventude seu significativo papel político, pois a verdadeira política é um exercício diário, indispensável na democracia. Acredito que a partir do voto seletivo veremos o surgimento de novas lideranças depuradas, sem vícios e sem ideias ultrapassadas. A efetiva mudança política não virá pelo equivocado tipo de protesto que menoscaba o direito do voto; virá, sim, pela valorização do voto e pela decidida participação cidadã. A omissão abre caminho aos oportunistas que reforçam ainda a desenfreada compra dos votos.
Antônio Scarcela Jorge.

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