sexta-feira, 7 de setembro de 2018

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - SEXTA-FEIRA, 7 DE SETEMBRO DE 2018


COMENTÁRIO­
Scarcela Jorge

BRASIL URBANO



Nobres:
É notório que a migração urbana tomou posição majoritária desde os grandes e pequenos centros das cidades brasileiras. Neste sentido direciona toda esta ação sobre as eleições presidenciais a que ocorrerá a pouco mais de um mês. Conhecemos da importância das eleições presidenciais provavelmente o mais importante desde a redemocratização do país a todas as manifestações dos candidatos, em busca de argumentos que fundamentem a a tenção do eleitor. No entanto as propostas de governo (se é que podemos chamá-las assim) frágeis e repetitivas, os presidenciáveis reproduzem as vagas promessas de sempre. E o que mais me chama atenção é que, até o momento, nenhum deles mencionou a palavra urbanismo. É fato que questões referentes ao planejamento territorial são de competência do governo municipal, portanto, de responsabilidade dos prefeitos e vereadores. Porém, a população urbana brasileira continua crescendo de forma acelerada e, atualmente, mais de 80% dos brasileiros vivem em cidades. Somos um dos países mais urbanos do mundo, mas não podemos dizer que somos um dos mais urbanizados. As metrópoles brasileiras apresentam déficit habitacional gigantesco, transporte de péssima qualidade, violência urbana assustadora, além de muitas outras mazelas que caracterizam um quadro nacional de profunda crise urbana. A dimensão urbana mudou de escala e a única maneira real de melhorar a vida da grande maioria dos brasileiros é através de uma sólida proposta nacional de política urbana. A Constituição de 1988 estabeleceu esse novo papel do governo federal no processo de planejamento municipal quando criou dispositivos constitucionais urbanísticos, regulamentados pelo Estatuto da Cidade (2001) e institucionalizados através da criação do Ministério das Cidades (2003). Entretanto, o aparato institucional criado para conceber e programar as políticas urbanas nacionais ainda não foi capaz de produzir resultados expressivos no desenvolvimento das nossas cidades. Os poucos projetos concebidos pelo Ministério das Cidades que alcançaram repercussão nacional, como por exemplo, o Programa Minha Casa Minha Vida, apresentam grandes deficiências técnicas já amplamente reconhecidas. Talvez por isso, a maior ingerência do governo federal nas questões urbanas não esteja sendo devidamente contemplada nos debates, e alguns candidatos podem estar até mesmo questionando a sua relevância. Um dos candidatos, inclusive, propõe explicitamente, se eleito, a extinção deste ministério. O fortalecimento político-institucional do Ministério das Cidades e a consolidação de uma agenda urbana nacional serão imprescindíveis para o sucesso do próximo mandato presidencial. A recuperação da economia, tão aclamada pelos candidatos e seus eleitores, só trará benefícios concretos para a população se vier acompanhada de propostas consistentes de desenvolvimento territorial e de gestão urbana. Nada adiantará voltarmos a ser a sétima economia do mundo se isso não se transformar em melhoria da qualidade de vida das pessoas. Os protestos que explodiram nas principais cidades do país, em junho de 2013, em que as pessoas reivindicavam melhorias urbanas, demonstram que a população já percebeu a relação intrínseca entre qualidade de vida e cidade. Só falta agora os políticos entenderem que o instrumento capaz de realizar essa transformação é o urbanismo, entretanto no estágio momentâneo de banditismo em que domina e anarquiza o Brasil se torna inviável.
Antônio Scarcela Jorge.

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