COMENTÁRIO
Scarcela JorgeVIVENCIANDO O PESADELO
Nobres:
Quando as relações, a partir de
pequenos e grandes gestos do cotidiano, deixam de se pautar pela ética definida
como “a vitória da convivência sobre a canalhice” passa a imperar o que se
constata hoje num cenário dominado por políticos e por gestores públicos de
maneira geral. Se, diante desse quadro de degradação, os brasileiros optam por
fazer vista graúda, mesmo que sob alegações de desânimo, descrença ou cansaço,
os prejuízos ficam ainda mais consideráveis. O fenômeno ocorre, em grande
parte, pelo fato de as condutas de convívio ser cada vez mais garantidas não
por critérios fundamentados na liberdade de escolha entre o que é certo e o que
é errado. A deformidade é simbolizada, em nossos dias, pelo constrangimento de
uma profusão de câmeras de vídeo, diante das quais as pessoas evitam
ultrapassar o sinal vermelho ou o limite de velocidade. A questão é que isso
ocorre menos pela preocupação de não ferir códigos mínimos de civilidade e mais
por estarem sendo observadas. A distorção ajuda a explicar o que é apontado
como um perigoso excesso de desconfiança em relação à capacidade de atitudes
individuais contribuírem em favor de mais ética no cotidiano. O pior que pode
acontecer, de fato, diante de uma situação que parece se generalizar no país é
a sociedade se mostrar anestesiada, optando por ignorar transgressões de todo
tipo. Fingir que não as vê, resignando-se com as provocações de quem fura a
fila ou rouba dinheiro público, é contribuir para manter a situação como está
com disposição a piorar ainda. Por felicidade simplificar conceitos difíceis vem
encontrando eco também na área de ensino, conquistando professores e alunos. A
educação constitui-se em peça-chave de uma inadiável mudança cultural. É pela
intuição, e não pela imposição, que o país poderá assegurar uma profunda
mudança cultural, na qual regras de convivência, incluindo respeito ao próximo
e ao que é do próximo, sejam vistas como valores inegociáveis. Esperamos que
tudo passarmos por este desleixo.
Antônio Scarcela Jorge.
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