COMENTÁRIO
Scarcela JorgeUM PARTIDO SEM CONSISTÊNCIA
Nobres:
Na mais elementar realidade dos fatos essa ‘liquefação’ da imagem
brasileira no exterior, à semelhança da mais grave crise econômica da nossa
história, é outra das heranças malditas do governo do Partido dos
Trabalhadores. O embaixador Ricupero, um dos ministros do FHC que inaugurou a
primeira ação escusa nos bastidores vazada pela imprensa na época, eclodindo o
primeiro escândalo da história moderna da corrupção neste país, como não podia
ser o ex-ministro que não merece atenção da sociedade por natural falta de
credibilidade até tenta contemporizar, bem no tom do diplomata experiente que
é, elogiando algumas iniciativas do ex-presidente Lula e do ex-chanceler Celso
Amorim, que esteve à frente do Itamaraty entre 2003 e 2010. Mas a verdade é que
a diplomacia petista obliterou o Ministério das Relações Exteriores e fez terra
arrasada de uma tradição de dois séculos de equilíbrio, bom senso e excelência,
perseguindo diplomatas não alinhados, aparelhando descaradamente a máquina
ministerial, abandonando interesses nacionais óbvios e apoiando financeiramente
regimes ditatoriais. O Itamaraty, que sempre se orgulhara de fazer política de
Estado, e não de governo, foi praticamente posto de joelhos pela sanha
ideológica de uma diplomacia rasteira e nitidamente enviesada, estranha à
vocação universalista do Brasil. O Itamaraty foi posta de joelhos pela sanha
ideológica de uma diplomacia rasteira e nitidamente enviesada. Ainda mais, o
avanço da operação Lava Jato e de suas ramificações nos Judiciários
estrangeiros está revelando que muito desse processo se deveu não só à cegueira
ideológica e ao autoritarismo tacanho, mas deu-se à custa da mais desbragada
corrupção. Aqui como lá os companheiros só faziam lambuzar-se nos recursos
sofridos do contribuinte brasileiro, notadamente pelo financiamento do BNDES a
obras de interesse duvidoso no exterior. Isso só foi possível por uma operação
de marketing pedestre, que contou com a vista grossa de muitos formadores de
opinião e observadores desavisados: especialmente para a jactância dos petistas que, à
época, convenientemente se esqueceram do seu antiamericanismo atávico. Para
ficar só no exemplo mais notável do completo naufrágio da diplomacia petista, a
criação de 44 novas embaixadas entre 2003 e 2010 e a expansão dos quadros do
Itamaraty sempre foram justificados pela necessidade de fazer comércio e estreitar
laços com parceiros de grande potencial econômico, bem como para fortalecer a
campanha pelo assento permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU.
Ilusão de ótica: o país continua alijado do centro do poder geopolítico e com a
pauta comercial concentrada nos poucos parceiros tradicionais (China, Estados
Unidos, Europa, MERCOSUL e Japão). Que grande campanha publicitária foi essa,
que não deixa nada a dever às maquinações do marqueteiro João Santana? Da mesma
forma que o desempenho econômico brasileiro nos anos 2000 era vendido como
mérito exclusivo do PT, enquanto se menosprezavam a bonança internacional do
período e o legado positivo da estabilização econômica dos anos 1990, o
protagonismo externo era creditado exclusivamente ao messianismo do
“lulo-amorismo”, desconsiderando a inserção delicada e bem-sucedida do Brasil
na ordem internacional, com a adesão a uma série de regimes, como o de não
proliferação nuclear e os de direitos humanos, além do início de uma integração
responsável com a América do Sul. Plantou-se a mentira estratégica, colheu-se a
desmoralização quase completa. Ricupero cita a importância do Brasil em matéria
agrícola e ambiental. Mas nenhuma das posições em que a diplomacia brasileira
ainda tem relevo é mérito dos delírios de grandeza da diplomacia “altiva e
ativa” de Amorim. A imprescindibilidade do Brasil nas negociações comerciais
agrícolas, por exemplo, é fruto do dinamismo e da eficiência do setor agrário,
que remonta pelo menos à criação da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária, a Embrapa, em 1973. A centralidade nas discussões ambientais, por
outro lado, deve-se ao fato de o país possuir a maior biodiversidade do mundo e
uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta, escolha política que
antecede em muito o petismo. Mesmo as conquistas na proteção ao patrimônio
natural da floresta Amazônica, que tanto se alardeia estar em risco sob o
governo de Michel Temer, começaram a degringolar ainda na gestão da
ex-presidente Dilma Rousseff. O alto
custo dessa trama macabra dos petistas no Itamaraty ainda será contabilizado
por muito tempo. As dimensões do desastre são muitas e o próprio Ricupero
reconheceu que “ninguém pode imaginar que o Itamaraty alavancará o Brasil se o
país não acaba com a corrupção, não volta a crescer [e] não combate a miséria”
coisa que ele bem sabe. Mas não é só. Além de reformas de que o país precisa
para retomar a estrada do crescimento sustentável e de punição exemplar, na
forma da lei, para todos os corruptos que estenderam seus tentáculos sobre o
Brasil desde 2003, será necessário garantir que nossa diplomacia seja resgatada
e ainda há diplomatas capacitados para tanto e permaneça sempre como uma
diplomacia de Estado. Não de governo, e muito menos dos companheiros de Lula.
Antônio Scarcela Jorge.
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