COMENTÁRIO
RETROCESSO
CULTURAL
Nobres:
No Brasil, excepcionalmente,
ficamos, muitas vezes, para trás. Distantes, pois, de um derradeiro patamar
civilizatório. Como reconheceu o economista Antonio Delfim Netto, o poder
econômico dominou a política, que passou a representar papel subalterno, ao
invés de ser a arte e ciência para a realização do bem comum. São palavras
textuais desse ex-ministro: “O setor privado anulou a única força que controla
o capitalismo, que é o Congresso”. A lei virou fonte primordial, normatizando
as condutas proibidas; escalonando prioridades e preferências; e estruturando
os órgãos que elaboram e aplicam as normas. Como conseqüência, o poder político
e estatal foi delimitado e dele passou-se a exigir legitimação, elevando-o do
plano material de simples dominação pela força. Entretanto por ser o mais forte
nunca é o bastante para ser sempre o senhor, se não transforma a sua força, em
direito e a obediência, em dever. No plano da educação o quadro não é menos
dramático. Mesmo sabendo que não há sequer mercado de crédito privado para
financiá-la, o Estado jamais a transformou em prioridade, apesar de ser notório
que o elevado aumento de produtividade do indivíduo advém de sua preparação.
Sem investimento nesse setor, gerações e mais gerações vão ficando sem escola
pública de qualidade, sem profissão e sem renda. Porta aberta para as drogas
que imediatamente abraçam as crianças e adolescentes que perambulam pelas ruas
à procura de um lar. E aí, vale repetir a máxima: “Quem não educa a criança,
castiga o adulto”. Exércitos de pessoas sem reais oportunidades se formam e
famílias se destroçam. Dentro desse contexto, vamos consolidando uma sociedade
de privilégios e exclusões, cujos governos, lamentavelmente, elegem como
prioridade a construção de presídios, compra de armas e aumento de efetivos
policiais em prejuízo da construção de escolas e aquisição de livros. Um país
com o grave problema da desigualdade extrema. Isso tudo levou a um cientista
político a assegurar que nossa elite é nossa tragédia. E alertou que dela, que
faz rodar o mar de lama, certamente não aparecerá nenhuma saída digna. Destarte,
ou o povo se une para mudar o país em 2018, ou retrocederemos ao estado de
natureza professado por Hobbes. Urge, portanto, recuperarmos nossas utopias e
apresentarmos um projeto para o Brasil no sentido de instar gerações éticas que
tanto o país carece.
Antônio Scarcela Jorge.
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