domingo, 15 de outubro de 2017

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - DOMINGO, 15 DE OUTUBRO DE 2017








COMENTÁRIO­
Scarcela Jorge
 RETROCESSO CULTURAL


Nobres:
No Brasil, excepcionalmente, ficamos, muitas vezes, para trás. Distantes, pois, de um derradeiro patamar civilizatório. Como reconheceu o economista Antonio Delfim Netto, o poder econômico dominou a política, que passou a representar papel subalterno, ao invés de ser a arte e ciência para a realização do bem comum. São palavras textuais desse ex-ministro: “O setor privado anulou a única força que controla o capitalismo, que é o Congresso”. A lei virou fonte primordial, normatizando as condutas proibidas; escalonando prioridades e preferências; e estruturando os órgãos que elaboram e aplicam as normas. Como conseqüência, o poder político e estatal foi delimitado e dele passou-se a exigir legitimação, elevando-o do plano material de simples dominação pela força. Entretanto por ser o mais forte nunca é o bastante para ser sempre o senhor, se não transforma a sua força, em direito e a obediência, em dever. No plano da educação o quadro não é menos dramático. Mesmo sabendo que não há sequer mercado de crédito privado para financiá-la, o Estado jamais a transformou em prioridade, apesar de ser notório que o elevado aumento de produtividade do indivíduo advém de sua preparação. Sem investimento nesse setor, gerações e mais gerações vão ficando sem escola pública de qualidade, sem profissão e sem renda. Porta aberta para as drogas que imediatamente abraçam as crianças e adolescentes que perambulam pelas ruas à procura de um lar. E aí, vale repetir a máxima: “Quem não educa a criança, castiga o adulto”. Exércitos de pessoas sem reais oportunidades se formam e famílias se destroçam. Dentro desse contexto, vamos consolidando uma sociedade de privilégios e exclusões, cujos governos, lamentavelmente, elegem como prioridade a construção de presídios, compra de armas e aumento de efetivos policiais em prejuízo da construção de escolas e aquisição de livros. Um país com o grave problema da desigualdade extrema. Isso tudo levou a um cientista político a assegurar que nossa elite é nossa tragédia. E alertou que dela, que faz rodar o mar de lama, certamente não aparecerá nenhuma saída digna. Destarte, ou o povo se une para mudar o país em 2018, ou retrocederemos ao estado de natureza professado por Hobbes. Urge, portanto, recuperarmos nossas utopias e apresentarmos um projeto para o Brasil no sentido de instar gerações éticas que tanto o país carece.
Antônio Scarcela Jorge.

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