sexta-feira, 25 de agosto de 2017

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - SEXTA-FEIRA, 25 DE AGOSTO DE 2017








COMENTÁRIO­
Scarcela Jorge
 DISTRITÃO DO INTERESSE

Nobres:
No Brasil ‘inventado’ pelos interesseiros corruptos, logicamente, não existe para consertar o sistema político brasileiro. O recente relatório do deputado Vicente Cândido (PT-SP) apresenta alguns avanços, como o fim das coligações proporcionais, mas outras propostas, como a lista fechada, têm efeitos menos certos. De toda forma, algumas idéias que rondam o meio político são claramente nefastas e só pioram os problemas atuais. Esse é o caso do chamado distritão. Com a medida, as vagas de deputados federais e estaduais serão distribuídas para os candidatos mais votados, independente de seus partidos. Atualmente, as cadeiras dos parlamentares são uma combinação de votos recebidos por candidatos e agremiações. Indo contra os anseios da população, o distritão beneficia os partidos e políticos que já estão no poder. Nesse modelo, o candidato precisa ser competitivo frente todo o eleitorado de seu Estado. Por isso levam vantagem os nomes já conhecidos pela população ou que contam com a máquina público-partidária para se tornarem populares. Análises com dados de eleições anteriores corroboram essa suspeita. Simulamos um cenário em que os candidatos mais votados são ranqueados, independente do partido. A partir daí, checamos quais novos deputados teriam sido eleitos por essa regra e quais ficariam de fora. Se o distritão já funcionasse nas eleições de 2010 e 2014 para a Câmara dos Deputados, o maior beneficiado seria o PMDB, seguido do PT e PSDB, todos envolvidos nos recentes escândalos de corrupção. Nas assembléias estaduais, a medida também seria extremamente generosa com o PMDB. O partido saltaria de 139 para 160 deputados estaduais eleitos em 2014. No Estado do Ceará, a bancada teria um acréscimo de 60%. Não é surpresa que o modelo seja defendido por Michel Temer e Eduardo Cunha, dois “rapazes que fazem a sua bíblia a corrupção”. Além de reforçar as estruturas políticas que estão no poder, o distritão também privilegia as campanhas ricas. Nossas simulações mostram que os 45 deputados federais que seriam eleitos por essa medida, em 2014, tiveram uma média de gasto (R$ 1 milhão) 57% maior que os 45 que ficariam de fora (R$ 673 mil). Ou seja, no distritão quem gasta mais, leva mais. E quem pagaria essa conta? Os cofres públicos? Sim. Uma vez que as doações empresariais foram corretamente proibidas, agora se deve aumentar o financiamento público de campanha. O fundo de R$ 3,6 bilhões proposto para custear campanhas resulta em um gasto de US$ 5,3 de cada brasileiro. Ora, embora o financiamento público seja desejável, deve ser acompanhado por medidas que tornem as campanhas mais baratas, atenuando assim o impacto sobre os recursos da União. Ao privilegiar o poder econômico e aumentar os incentivos sistêmicos para mais gastos, o distritão vai à direção oposta. É possível fazer muito para melhorar o sistema político brasileiro. Esperamos que, neste momento, precisamos de regras que permitam a renovação dos quadros políticos e a diminuição do poder econômico nas campanhas. A lógica e os dados demonstram que o distritão não é o caminho, lógica esta não cabe na cabeça dos corruptos.

Antônio Scarcela Jorge.

Nenhum comentário:

Postar um comentário