domingo, 20 de agosto de 2017

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - DOMINGO, 20 DE AGOSTO DE 2017








COMENTÁRIO­
Scarcela Jorge
ESTADO DE ALERTA

Nobres:
Mesmo tendo passado o choque inicial e arrasador da delação da JBS, o presidente Michel Temer dedica-se a convencer uma audiência restrita de que tem condições de permanecer no cargo. Impopular desde a origem de seu governo, Temer não se dirige ao público geral quando apresenta sua defesa. Fala, principalmente, às instituições do Judiciário e aos partidos de sua base de sustentação no Legislativo. Sua tarefa, dificílima, é contestar os indícios e procedimentos que motivaram um inquérito contra si e, mais relevante de um ponto de vista pragmática, evitar a debandada de sua coalizão parlamentar. Temer há muito manifesta sua preocupação com a prudência jurídica, o direito à plena defesa e a presunção da inocência, que correm o risco de ser violados no turbilhão diário de escândalos e em meio à indignação da opinião pública. Sob o prisma político, entretanto, as gravíssimas suspeitas levantadas contra Temer são plausíveis o bastante para comprometer a capacidade de governar ainda que o inquérito em curso não revele de pronto novas complicações. O mau exemplo foi que o presidente recebeu na residência oficial um empresário investigado passivamente, ouviu-o discorrer sobre intenções de subornar procuradores. Designou ainda a Batista um interlocutor privilegiado, o deputado Rodrigo Rocha Loures, afastado do posto após flagrante de receptação de dinheiro. Na arena parlamentar, Temer depende de manter uma coalizão que não apenas contenha investidas por seu impedimento, mas que respalde a agenda de estabilização econômica esteio básico, talvez único, de sua gestão. Político reconhecidamente habilidoso, Temer fez avançar reformas cruciais. Aprovaram-se o teto para os gastos públicos e o programa de socorro a Estados falidos; há pela frente as reformas previdenciárias, dentre elas, sem as quais a retomada econômica torna-se ainda mais incerta. A própria hipótese de que Temer venha a ser deposto, aliás, basta para provocar a retração de consumidores e empresas. Vislumbra-se, assim, um círculo vicioso em que fragilidades do mandatário, de sua base e da economia acentuam umas às outras. É ameaça que o governo, por um fio, terá de debelar em questão de dias.
Antônio Scarcela Jorge.

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