COMENTÁRIO
Scarcela
Jorge
RETROCESSO
LATENTE
Nobres:
Parecerem-nos serem imutáveis as
ações de poder como estima os nossos governantes. Na realidade o tempo passa a
realidade muda e impõe transformações aptas a acompanhar o avançar do
calendário. A observação vem a propósito da viagem de Michel Temer ao Paraguai
para participar da Reunião do MERCOSUL. Sem vice-presidente, o substituto legal
é o presidente da Câmara e, na ausência dele, o presidente do Senado. Em razão
das regras eleitorais, porém, ambos precisaram deixar o país para não tomar
assento no Palácio do Planalto. Caso o fizesse nos seis meses que antecedem o
pleito, não poderiam disputar outro cargo senão a Presidência da República.
Assim, a ministra Carmen Lúcia, a seguinte na linha sucessória, assumiu a
chefia do Executivo por algumas horas. Com o retorno de Temer, todos voltam
para casa. Trata-se de exemplo da impassibilidade das árvores diante do vento
que sopra. Mantém-se regra antiga, de época em que a comunicação era lenta,
difícil, com risco de extravio. Não é o caso desta altura do século 21. Na era
da internet, trocam-se informações em tempo real. Além de mensagens escritas,
telefone, videocâmaras e videoconferências encontram-se à mão, fáceis e
descomplicados como andar pra frente. A ausência de Rodrigo Maia e Eunício
Oliveira chama a atenção, mais uma vez, para a paralisia do Congresso Nacional.
Com a taxa de desemprego que beira 14 milhões de pessoas e a de desalento que
soma outro tanto, o país não pode se dar ao luxo de adiar soluções
indispensáveis para destravar o desenvolvimento nacional. Pautas urgentes ficam
esquecidas sai mês, entra mês, sai ano, entra ano. Os interessados cobram
avanços, especialistas esclarecem as razões da urgência, a imprensa divulga o
problema. Mas a resposta não vem. Entre os projetos que aguardam na fila,
alguns sobressaem. A reforma tributária há muito esperada para simplificar o
esquizofrênico sistema de cobrança de impostos. A privatização da Eletrobrás deficitária,
sem capacidade de investimento e sujeita a interferências políticas. Não só
engrossa a fila de espera o cadastro positivo, a desoneração da folha de
pagamento, a racionalização da concessão de subsídios. Há pouca perspectiva de
avanço em votações de temas substantivos neste ano. Neste mês de junho, com a
Copa do Mundo e as festas juninas, dificilmente os parlamentares se debruçarão
sobre os grandes temas de interesse nacional. Em julho, o calendário marca
recesso parlamentar. Em seguida, começa a campanha eleitoral. Deputados e
senadores concentrarão esforços nas bases em busca de votos. Resultado:
adiar-se-á, mais uma vez, o inadiável.
Antônio Scarcela Jorge.
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