quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - QUINTA-FEIRA, 28 DE DEZEMBRO DE 2017

COMENTÁRIO­
Scarcela Jorge
ARRISCAR NA CURTA MEMÓRIA DO BRASILEIRO

Nobres:
Neste ano, os cidadãos brasileiros assistiram de camarote a um jogo de meias verdades mantido entre dois pólos que já se atraíram imensamente num passado nada distante, mas que hoje simplesmente se repelem: de um lado, o PT, os defensores do governo Dilma e os apoiadores de Lula; do outro, o PMDB e os defensores do atual governo. No duelo de narrativas falseadas sustentadas por ambos os lados, ninguém sai ganhando, menos ainda os espectadores da contenda. Primeiramente, o PMDB. Enfurnado até a alma no petrolão e em outros tantos ‘esquemas’ sobretudo no assalto à Petrobras e a outros órgãos federais desde meados dos anos 1990, o partido de Temer, uma vez alçado ao governo central, passou a agir e a discursar como se nada tivesse a ver com a corrupção instaurada no governo anterior, do qual foi sócio e cúmplice enquanto lhe foi conveniente. E como lhe foi conveniente! Ao mesmo tempo, o PT, sobretudo pela voz de Lula em seus comícios fora de época, põe-se a falar em crise, recessão econômica, desemprego e perda de conquistas sociais como se tudo isso fosse invenção de Temer e do PMDB. Quem ouve Lula e seus adoradores discursarem, sem o mínimo senso crítico nem conhecimento da história política recente do país, sai da praça convencido de que os problemas nacionais surgiram a partir do momento em que Temer chegou ao poder. Como se tudo isso nada tivesse a ver com a herança calamitosa deixada por Dilma, especialmente no campo econômico, quando foi destituída pelo Senado em agosto de 2016. Do mesmo modo, Lula e lulistas ficam a gritar “golpe, golpe, golpistas”, mas parecem esquecer, por amnésia seletiva, que a boca que em 2015/2016 mordeu a mão do PT, arrancando o dedo e o anel de Dilma, foi a boca peemedebista que essa mesma mão tratou de alimentar, com ração política de primeira, como cão de guarda do governo petista no Congresso de 2006 a 2015. Num súbito esquecimento ditado pela conveniência, esquece-se que quem trouxe o PMDB para sua base e para pertinho do Planalto, mimando-o com ministérios às pencas, foi o próprio Lula, para escapar do naufrágio que o mensalão poderia ter representado para ele, em 2005/2006. Esquece, ainda, que foi o mesmo Lula quem acomodou Temer como vice da sua pupila em 2010, em uma aliança eleitoral reeditada (e de novo: excelente para ambos) no pleito seguinte. Tem-se, então, um mútuo contrassenso; narrativas parciais em choque, editadas em função da conveniência e da lente político-ideológica com que cada lado prefere enxergar os fatos. Agora, o mais revoltante é constatar que, ao que tudo indica, estamos diante de uma guerra entre facções, gangues que brigam pelo controle de determinada boca de fumo, como aquelas representadas em filmes como “Cidade de Deus”. Tudo, logicamente, em escala muito maior e envolvendo o tesouro público. O seu, o meu, o nosso suado dinheiro, assaltado antes pelo PT, agora pelo PMDB, com apoio do PSDB. Apostando sempre na curta memória do rendido eleitor brasileiro.
Antônio Scarcela Jorge.

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