COMENTÁRIO
Scarcela JorgeO ABUSO DA NOTÍCIA.
Nobres:
Muitos reclamam aqui dos noticiosos principalmente no rádio desta região
que priorizam as ocorrências policiais. Mesmo dentro deste contexto se faz
necessário publicar como informação e obviamente visando orientar este
angustiante preceito robustecido pelas ações de políticos desde a base a cúpula
e infelizmente se comungam em ações delituosas mesmo sem precedentes. O que
presenciamos neste Brasil sacudido por uma tremenda crise ética, alimentada
pelo cinismo e pela mentira dos que deveriam dar exemplo de integridade, há,
felizmente, uma ampla classe média sintonizada com valores e princípios que
podem fazer a diferença. E nós, jornalistas, devemos escrever para a classe
média. Nela reside o alicerce da estabilidade democrática. O que segura o
Brasil é o cidadão comum. Mesmo em épocas de crise (e estamos vivendo uma
gravíssima crise de segurança pública), é preciso não aumentar
desnecessariamente a temperatura. O jornalismo de qualidade reclama um especial
cuidado no uso dos adjetivos. Caso contrário, a crise real pode ser amplificada
pelos megafones do sensacionalismo. À gravidade da situação, inegável e
evidente, acrescenta-se uma dose de espetáculo. O resultado final é o
fortalecimento da crise. Alguns setores da mídia têm feito, de fato, uma opção
preferencial pelo negativismo. O problema não está no noticiário da violência,
mas na miopia, na obsessão pelos aspectos sombrios da realidade. É cômodo e
relativamente fácil provocar emoções. Informar com profundidade é outra
conversa. Exige trabalho, competência e talento. É cômodo e relativamente fácil
provocar emoções. Informar com profundidade é outra conversa. O que queremos
dizer é que a complexidade da violência não se combate com espetáculo, atitudes
simplórias e reducionistas, mas com ações firmes das autoridades e, sobretudo,
com mudanças de comportamento. O que critico não é a denúncia da violência, mas
o culto ao noticiário violento em detrimento de uma análise mais séria e
profunda. Precisamos, ademais, valorizar editorial e informativamente inúmeras iniciativas
que tentam construir avenidas ou ruelas de paz nas cidades sem alma. É preciso
investir numa agenda positiva. A bandeira a meio pau sinalizando a violência
sem fim não pode ocultar o esforço de entidades, universidades e pessoas
isoladas que, diariamente, se empenham na recuperação de valores fundamentais:
o humanismo, o respeito à vida, a solidariedade. São pautas magníficas.
Embriões de grandes reportagens. Denunciar o avanço da violência e a falência
do Estado no seu combate é um dever ético. Mas não é menos ético iluminar a
cena de ações construtivas, freqüentemente desconhecidas do grande público,
que, sem alarde ou pirotecnias do marketing, colaboram, e muito, na construção
da cidadania. É o trabalho honrado e competente. É o empreendedorismo que
consegue superar o terreno minado pela incompetência do Estado. É o empresário
que toca o negócio e não dá propina. Apesar de tudo, juventude, por exemplo, ao
contrário do que fica pairando em algumas reportagens, não está tão à deriva. A
delinqüência bem-nascida, denunciada muitas vezes neste espaço opinativo, está
longe de representar a maioria esmagadora da população estudantil. A juventude
real, perfilada em várias pesquisas e na eloqüência dos fatos, está
identificando valores como amizade, família, trabalho. O futuro depende de
esforços pessoais que se somam e começam a mudar pequenas coisas. É preciso
fazer o que é correto, e não o que pega bem. Mudar os rumos exige, sobretudo, a
coragem de assumir mudanças pessoais. E, além disso, é uma resposta ética e
editorial aos que pretende fazer do jornalismo um refém da cultura da
violência. Estamos naturalmente agregando o inconfundível.
Antônio Scarcela Jorge.
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