quarta-feira, 6 de maio de 2020

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - QUARTA-FEIRA 6 DE MAIO DE 2020


COMENTÁRIO­
Scarcela Jorge
INSTÂNCIA INSÓLITA

Nobres:
A pandemia coloca um antagonismo entre duas posições. A de que as pessoas se isolem para não propiciar contaminação e a de que a economia suspensa em suas atividades tirará o sustento das pessoas, provocará a derrocada das empresas e o caos social. A verdade é que as autoridades estão procurando graduar a flexibilização para encontrar uma espécie de equilíbrio. As convicções são fortes de parte a parte, e os que portam a caneta precisam ouvir bastante, receber informações atualizadas e, mais do que nunca, utilizar estatísticas. A seta que indica o caminho carrega a intensidade dos fatos. Neste aspecto encontramos os livros assentados em nossas prateleiras a obra de Paul Veyne intitulada “Foucault: sa pensée, sa personne” expressa que "os contemporâneos estão, portanto, tão encerrados em discursos como em aquários falsamente transparentes, e ignoram que aquários são esses e até mesmo o fato de que há um. As falsas generalidades e os discursos variam ao longo do tempo; mas a cada época eles passam por verdadeiros." É necessário, pois, como dizia Foucault, programar a arqueologia, que Veyne denomina de "balanço desmistificador". Deveras tal balanço é fundamental para entender certos aquários, onde os peixinhos, ignaros e/ou desinformados em sua quase totalidade, desconhecem o que se passa acima do nível em que vivem, hábitat de peixes grandes que lembram o Pacheco, personagem de Eça de Queiroz no livro A Correspondência de Fradique Mendes. Pacheco, estudante da Universidade de Coimbra, em Portugal, era um sujeito tido como brilhante. Virou deputado, ministro e primeiro-ministro. Quando morreu, a pátria toda chorou. Os jornalistas foram estudar sua biografia e descobriram que ele não tinha feito nada. Era uma fraude. Ostentava falsas grandezas. No Brasil oficial, aquário que lembra o País de Cocagne, sobeja Pacheco com aparência de Catão e uma ambição pessoal desmedida, obnubilada por alegada servidão aos interesses do País. Esses especialistas em artes cênicas, ao longo do tempo, sempre agiram sem qualquer rubor, objetivando tornar históricos momentos em que são pronunciados discursos, declarações e arroubos indignados quando atos ilícitos são descobertos, ou quando a ocasião é propícia para tirar proveito dos acontecimentos, geralmente em meio a crises, cujas consequentes agruras são sentidas apenas no Brasil real, o que remete a Benedetto Croce, que doutrina que, assim como nenhum homem é uma ilha, nenhuma crise pode ser tratada como fenômeno isolado. Ela é sempre, de certo modo, uma infecção generalizada. Não é sem razão, pois, que a ética dominante no Brasil oficial é na verdade controlada, regulada e legislada pelo Estado. Essa ética do poder nasceu em uma comunidade de antanho, formada por juízes, servidores públicos, civis e militares, etc., a qual irá compor, ao longo dos séculos, mas, diante desta pandemia o Presidente da República procura modelar sua autoridade ferida pelos Governadores dos Estados na ânsia em disputar as próximas eleições presidenciais, depois que estas feras irão se degradar continuando gerando crises muito pior desta pandemia que ora aspiram à sucessão presidencial agora com pressa para colocar o presidente em impedimento, onde quase todos foram “cassados” não discuto o (dês) mérito das questões, todos em sentido comum. Na esclerose corrupta dos políticos que predominam o poder com as ações determinadas pelo legislativo da União, e o pior com anuência do STF por seus membros majoritário que observam o interpretativo que lhes facultam constituído pela Constituição vigente e ainda fortalecidos pelo poder da mídia, radicais e espertos, lembrou daquilo que o saudoso Raymundo Faoro denomina de "estamento burocrático" (Os Donos do Poder), entidade anônima, parasítica do Brasil real, que necessita de uma urgente tomada de providência, no entanto entrar na bancarrota.
Antônio Scarcela Jorge.

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