COMENTÁRIO
Scarcela JorgeDESLUMBRADO PELO PODER.
Nobres:
Ainda não passou o impacto inicial e arrasador da delação da JBS, o
presidente Michel Temer (PMDB) dedica-se a convencer uma audiência restrita de
que tem condições de permanecer no cargo. Impopular desde a origem de seu
governo, Temer não se dirige ao público geral quando apresenta sua defesa, como
fez em pronunciamento dirigido a nação cujo tema: justificar o injustificável.
Neste aspecto Temer fala, principalmente, às instituições do Judiciário e aos
partidos de sua base de sustentação no Legislativo. Sua tarefa, dificílima, é
contestar os indícios e procedimentos que motivaram um inquérito contra si e,
mais relevante de um ponto de vista pragmática, evitar a debandada de sua
coalizão parlamentar. O presidente não deixa de ter razão ao apontar
inconsistências, de forma e conteúdo, na gravação de sua conversa com o
empresário Joesley Batista. Também procede ao raciocínio de que a manobra
contribuiu para que o delator, hoje viva em liberdade nos Estados Unidos. Por
outro lado os delatores em liberdade no exterior como os demais contemplados
‘com as delações premiadas’ é deveras preocupante com a prudência jurídica, o
direito à plena defesa e a presunção da inocência, que correm o risco de ser
violados no turbilhão diário de escândalos e em meio à indignação da opinião
pública. Sob o prisma político, entretanto, as gravíssimas suspeitas levantadas
contra Temer são plausíveis o bastante para comprometer a capacidade de
governar ainda que o inquérito em curso não revele de pronto novas
complicações. O presidente recebeu na residência oficial um empresário
investigado disse que ignorava tal condição passivamente, ouviu-o discorrer
sobre intenções de subornar procuradores. Designou ainda a Batista um
interlocutor privilegiado, o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), afastado
do posto após flagrante de receptação de dinheiro. Na arena parlamentar, Temer
depende de manter uma coalizão que não apenas contenha investidas por seu
impedimento, mas que respalde a agenda de estabilização econômica esteio
básico, talvez único, de sua gestão. Político reconhecidamente habilidoso, o
peemedebista foi feito a avançar reformas cruciais. Aprovaram-se o teto para os
gastos públicos e o programa de socorro a Estados falidos; há pela frente as
reformas previdenciárias e trabalhistas, torna-se ainda mais incerta. A própria
hipótese de que Temer venha a ser deposto, aliás, basta para provocar a
retração de consumidores e empresas. Mesmo assim o presidente descarta a
renúncia - diz Temer: - Se quiserem me derrubem. É a ânsia pelo poder e já
anuncia a possibilidade de disputar a sua reeleição presidencial o que é uma
loucura. É mesmo vislumbrar um círculo vicioso em que fragilidades do
mandatário, de sua base e da economia acentuam umas às outras. É ameaça que o
governo, por um fio, terá de debelar em questão de dias, esta sim é realidade.
Antônio Scarcela Jorge.
Nenhum comentário:
Postar um comentário