sábado, 24 de junho de 2017

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - SÁBADO 24 DE JUNHO DE 2017








COMENTÁRIO­
Scarcela Jorge
DESLUMBRADO PELO PODER.

Nobres:
Ainda não passou o impacto inicial e arrasador da delação da JBS, o presidente Michel Temer (PMDB) dedica-se a convencer uma audiência restrita de que tem condições de permanecer no cargo. Impopular desde a origem de seu governo, Temer não se dirige ao público geral quando apresenta sua defesa, como fez em pronunciamento dirigido a nação cujo tema: justificar o injustificável. Neste aspecto Temer fala, principalmente, às instituições do Judiciário e aos partidos de sua base de sustentação no Legislativo. Sua tarefa, dificílima, é contestar os indícios e procedimentos que motivaram um inquérito contra si e, mais relevante de um ponto de vista pragmática, evitar a debandada de sua coalizão parlamentar. O presidente não deixa de ter razão ao apontar inconsistências, de forma e conteúdo, na gravação de sua conversa com o empresário Joesley Batista. Também procede ao raciocínio de que a manobra contribuiu para que o delator, hoje viva em liberdade nos Estados Unidos. Por outro lado os delatores em liberdade no exterior como os demais contemplados ‘com as delações premiadas’ é deveras preocupante com a prudência jurídica, o direito à plena defesa e a presunção da inocência, que correm o risco de ser violados no turbilhão diário de escândalos e em meio à indignação da opinião pública. Sob o prisma político, entretanto, as gravíssimas suspeitas levantadas contra Temer são plausíveis o bastante para comprometer a capacidade de governar ainda que o inquérito em curso não revele de pronto novas complicações. O presidente recebeu na residência oficial um empresário investigado disse que ignorava tal condição passivamente, ouviu-o discorrer sobre intenções de subornar procuradores. Designou ainda a Batista um interlocutor privilegiado, o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), afastado do posto após flagrante de receptação de dinheiro. Na arena parlamentar, Temer depende de manter uma coalizão que não apenas contenha investidas por seu impedimento, mas que respalde a agenda de estabilização econômica esteio básico, talvez único, de sua gestão. Político reconhecidamente habilidoso, o peemedebista foi feito a avançar reformas cruciais. Aprovaram-se o teto para os gastos públicos e o programa de socorro a Estados falidos; há pela frente as reformas previdenciárias e trabalhistas, torna-se ainda mais incerta. A própria hipótese de que Temer venha a ser deposto, aliás, basta para provocar a retração de consumidores e empresas. Mesmo assim o presidente descarta a renúncia - diz Temer: - Se quiserem me derrubem. É a ânsia pelo poder e já anuncia a possibilidade de disputar a sua reeleição presidencial o que é uma loucura. É mesmo vislumbrar um círculo vicioso em que fragilidades do mandatário, de sua base e da economia acentuam umas às outras. É ameaça que o governo, por um fio, terá de debelar em questão de dias, esta sim é realidade.

Antônio Scarcela Jorge.

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