segunda-feira, 7 de outubro de 2019

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - SEGUNDA-FEIRA 7 DE OUTUBRO DE 2019


COMENTÁRIO­
Scarcela Jorge
ECA ESTÁ ALÉM DO EXERCÍCIO DE CIDADANIA

Nobres:
O Estatuto, tendo por fonte material o fenômeno da violência contra crianças e adolescentes e a chamada “questão do menor”, aparece como resposta humanitária à injustiça vivida por milhões de seres em situações de vulnerabilidade. A falta de atenção à saúde; à educação; o desrespeito à liberdade, à dignidade e à convivência familiar e comunitária; o descaso pela educação, pela cultura, pela profissionalização, pelo esporte e pelo lazer; obrigam uma elaboração de normas capazes de garantir coercivamente os direitos de nossa maior riqueza, as crianças. As leis não nascem por acaso, surgem dos fenômenos da sociedade, quando deveriam se originar das suas necessidades que desponta criado pelos poderosos para garantir seus interesses, impostos coercivamente à obediência de todos, os chamados “escravos da lei”, quando, na verdade, a lei é que deveria surgir escrava dos interesses humanos, principalmente dos mais vulneráveis. O Estatuto, como o Código do Consumidor, as leis do meio ambiente, da economia popular, da usura, da ação popular, das ações civis públicas, nasce das necessidades em sociedade. Assim como suas congêneres, sempre encontra resistências, interpretações equivocadas e principalmente na má vontade, própria dos poderosos interesses contrariados. Ajustando a chamada democracia participativa através dos Conselhos de Direitos; interferindo na formulação de políticas públicas e no controle das respectivas ações; permitindo, inclusive, recurso ao Judiciário, o Estatuto haveria de se defrontar com resistências, principalmente dos agentes políticos, desacostumados à coparticipação comunitária. Ao submeter pais e responsáveis a respostas pela desmoralização, por exemplo, ao sagrado direito que temas crianças, como pessoas humanas, à liberdade de opinião e de expressão; de crença e de culto religioso; a buscar refúgio, auxílio e orientação, é claro que as novas disposições não poderiam ser bem recebidas por muitos adultos, acostumados às diretrizes e ordens dos “bons pais de família”, solidificadas no poder decorrente de seculares práticas despóticas. “Educadores”, também habituados ao autoritarismo das cátedras, não veem com bons olhos muitos dos novos direitos dos educandos, principalmente o de contestar critérios avaliativos e a possibilidade de recurso às instâncias escolares superiores, ou o direito de se organizar e de participar de entidades estudantis, bem como “o direito dos pais de terem ciência e participação no processo pedagógico”. Antigos Juízes de Menores, que possuem, inclusive, poderes legislativos; diversos Promotores de Justiça, tidos como defensores, Curadores de Menores e muitos Delegados de Polícia, que “sempre procuram o bem estar e o melhor para o menor”, podendo agir sem limites, também se opuseram talvez de tantos direitos e de pouco dever que o Estatuto nos impõe estando sujeitas à orientação, acompanhamento e fiscalização das comunidades através dos Conselhos e do Ministério Público. Por esta razão houve mudanças radicais, coisas novas, sustentando que é muito perigoso, pois isso vem sendo por resistência e agressividade, origina-se das profundas mudanças de concepção da infância e da juventude. Por outro lado o Estatuto garantem os direitos, mas “formalmente” fixa responsabilidades para crianças e adolescentes, que funcionaria como um importante instrumento de pedagogia à sociedade. Os debates aqui e acolá existem oportunamente, onde direitos e responsabilidades são estudados a partir da ótica da cidadania. Os Conselhos de Direito raramente vão se afirmando e os Conselhos Tutelares vê adquirindo sua verdadeira identidade. Programas ao invés de instituições, principalmente voltados para o restabelecimento de direitos, para a família e para os vínculos comunitários, surgem como promissoras realidades e conscientização dentro dos princípios preconizados que buscarão na área da chamada delinquência juvenis deverão ser encaradas de forma realista, vedada a que por hora está acima de interesses dos conselhos genericamente transformado em palanques eleitoral em vista as eleições municipais no ano que vem.
Antônio Scarcela Jorge.


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