COMENTÁRIO
Scarcela
Jorge
SEM AVAL DA SOCIEDADE ÉTICA O “CHEQUE
EM BRANCO” DADO POR POLÍTICOS
Nobres:
Uma das mudanças efetivas em que estamos assistindo agora, diante dos
nossos olhos, a transformações sociais e culturais importantíssimas, verdadeiras
revoluções. Estamos vivenciando a navegação espacial, a inédita
comunicação virtual pela internet, as investigações da bioética, por
exemplo. Gigantesca revolução também é a que se está processando nas chamadas
“redes sociais”, com imprevistas repercussões não só sobre a imprensa
tradicional (que está abalando), também sobre a representação política. Ainda
não nos estamos dando conta do fenômeno e de suas consequências. Com o advento
e o sucesso das redes sociais, a representação política não pode continuar a
ser a mesma. O atual modelo está em crise e deve desaparecer. Houve quem
dissesse que as redes sociais deram voz a um milhão de imbecis. Exagero,
lamentável incompreensão. É claro que há muita idiotice na internet e é
grandessíssima perda de tempo dar às redes atenção permanente. Mas o que elas
fizeram, substancialmente, foi dar voz ao homem comum, ao homem simples, que
vivia no seu canto e reclamava de umas tantas dificuldades a que, no entanto, o
enfatuado político não dava atenção. Aquele, agora, está tendo voz e descobre
que sua voz é poderosa. Pois a multidão calada agora está falando. Sobre a
situação do Brasil que está sendo visivelmente um Brasil que estava oculto o
que as redes sociais estão mostrando, um Brasil que andava abafado pelas
pressões e pelas modas da grande mídia e do “politicamente correto” e que,
agora, com as redes sociais, está podendo falar. Para um nível geral o do
efeito dessa voz das multidões silenciosas, que agora falam pelas redes
sociais, sobre o modelo de representação política que vimos praticando.
Podem-se antever modificações substanciais. Se nunca houve, na deficiente
experiência brasileira, muita interação entre eleitores e eleitos, não cobrando
e não manifestando, aqueles, suas opiniões, na história parlamentar no Brasil é
muitíssimos prováveis, agora, com as redes sociais, esse cenário mude. Já houve
senador que, para dar um determinado voto, andou consultando seus eleitores
numa rede social. Em que medida procedimentos assim não virão a ser
institucionalizados? Plebiscitos e referendos podem ser realizados, por essa
via, com muito maior facilidade e eficiência. O instituto da iniciativa popular
pode vir a ter outra configuração. Instrumentos como a revogação do mandato,
pelo desrespeito do eleito às inclinações dos seus eleitores, podem vir a ser
considerados seriamente. Com certeza diminuirá, ou já está diminuindo, a
liberdade dos parlamentares para dar (ou vender) seus votos à revelia do
eleitorado. O “cheque em branco” da velha representação pode estar com seus
dias contados. Haverá mais transparência e mais publicação, perspectivas mais
propriamente republicanas, e isso abre perspectivas promissoras. O Brasil está
mudando com as redes sociais.
Antônio
Scarcela Jorge.
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