COMENTÁRIO
Scarcela Jorge
A VULGARIZAÇÃO DOS
POLÍTICOS NA ASSOCIAÇÃO DO CRIME
Nobres:
Às claras evidências recentes de corrupção entre altos
comandos sociais, como o ex-presidente Lula e alguns de seus colaboradores
próximos, como Palocci e José Dirceu; o presidente Temer e seus colaboradores,
como o Rocha Loures; Aécio Neves e sua irmã, além de lideranças empresariais
importantes, como Marcelo Odebrecht, Eike Batista e Joesley Batista, certamente
sedimentaram exemplos que impulsionam a população para o crime. Todos esses
criminosos estimulam as práticas semelhantes de outros, pois o comportamento de
violação de normas passa a ser algo não tão condenável na percepção das
pessoas. Por uma das razões as lideranças podem influenciar bastante o
comportamento social de novas gerações na sua probabilidade de respeitar normas
positivas para o bem-estar de todos. Contudo, também podem ter o impacto
inverso na sociedade, incentivando comportamentos nefastos a partir de seus
exemplos. Talvez seja possível explicar os eventos recentes no Rio de Janeiro à
luz desses desenvolvimentos teóricos. Recentemente, vimos no Rio de Janeiro uma
situação inusitada no Brasil, pelo menos em sua freqüência. Vários bandos de
indivíduos atacavam outros, geralmente em bem menor número ou mesmo sozinhos,
com o intuito de assaltá-los. Observa-se a estrutura cooperativa no crime e a
disposição a violar normas coercitivas que visam coibi-lo. A escalada repentina
do crime parece indicar que houve realmente redução da eficiência da segurança
pública local nos últimos meses, pelo menos na visão dos potenciais marginais.
Essa percepção impulsiona o instinto criminoso porque diminui a probabilidade
de punição aos indivíduos que o extravasarem. No entanto, a cooperação de
vários indivíduos numa mesma ação criminosa talvez esteja dando também outro
sinal quanto às origens da escalada verificada. Não foram os crimes individuais
que se elevaram, mas crimes com participação de números grandes de indivíduos. Isso
facilita o diálogo nos diversos ambientes sociais em que o crime encontra eco,
pois uma mobilização de cerca de dez pessoas para fazer uma ação criminosa
requer um processo inicial de mobilização e coordenação que não é facilmente
realizado em ambiente em que o crime é ideologicamente condenável. Os líderes
dessas ações não hesitaram em se expor perante aos demais membros de suas
coletividades ao mobilizar outros indivíduos para as ações. Isso significa que
o crime se tornou socialmente mais aceitável em várias comunidades no Rio de
Janeiro. Certamente a recente condenação de Lula no TRF-4 fortaleceu a crença
social de que ele cometeu os crimes dos quais é acusado. Isso seguramente
aumentou a aceitação do crime, e coincide com a sua escalada com participação
de grupos grandes de indivíduos como foi visto no Rio de Janeiro. Ou seja, a
maior ineficiência da segurança pública talvez não seja a única causa do
aumento do crime no Rio de Janeiro. O aumento da percepção de que lideranças
sociais importantes, que eram socialmente valorizadas, e que representavam
exemplos a serem seguidos, entregaram-se ao crime leva a um afrouxamento da
repressão social ao crime a partir da moral. Isso deve ter contribuído para
alavancar o crime no Brasil e especial no Rio de Janeiro. Os fatos são
evidentes.
Antônio
Scarcela Jorge.
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