COMENTÁRIO
Scarcela Jorge
ALTERAÇÕES CONJUNTURAIS
Nobres:
Ainda
é cedo para prever todas as consequência da condenação de Lula. Mas não são
poucos os atores e analistas que reconhecem ser muito difícil manter uma
candidatura alcançada pela literalidade do artigo 1º, I, e, da Lei das
Inelegibilidades. A menos que a condenação criminal do TRF da 4a Região seja
revertida no STJ ou no STF. Hipótese em que pouca gente aposta. Claro que Lula
poderá registrar sua candidatura no dia 15 de agosto. Mas sem que sua
condenação criminal tenha sido anulada pelo STJ ou STF, restará o caminho de
tentar liminares ou habeas corpus para disputar ‘sub judice’. Se finalmente for
mantida a condenação criminal ou não forem suspensos seus efeitos
eleitorais, sua candidatura terá registro negado ou terá seus votos
declarados nulos. Tudo isso dificulta as alianças necessárias a uma candidatura
presidencial. Essas incertezas já fizeram com que outras candidaturas do seu
campo, como as de Ciro Gomes, Marina Silva, Manuela D’Ávila e Guilherme Boulos
tenham sido reafirmadas por seus defensores. Então torna provável um recuo
eleitoral do lulismo e adjacências. Antes, havia disponível o atalho da desta
candidatura. As vitórias eleitorais por ele impulsionadas ampliaram
o acesso ao aparato do estado e ao financiamento empresarial da política. Isso
compensava o maior apoio do mundo do capital e das finanças tradicionalmente
consagrado aos partidos de centro ou de direita. Também compensava a maior
facilidade daqueles partidos em manipular o senso comum que permite a
reprodução das idéias e valores do ‘status quo’. Na conjuntura adversa, o
progressismo precisará repensar uma nova cultura de governo e de ação política.
Terá que fazer autocrítica sobre os erros cometidos em relação a temas como
corrupção e concepção republicana do estado. Necessitará aprofundar o
conhecimento teórico e prático sobre a desigualdade, a exclusão social, o
funcionamento da economia, o meio-ambiente e o desenvolvimento brasileiro. E
terá que formular um projeto viável de imediata reconstrução do país. Nesse
processo, poderão surgir novos líderes e atores coletivos. Com o seu principal
líder em declínio, vai ter que inventar modelos menos personalistas e
populistas. Sem reproduzir o monopólio (por um partido que hegemoniza) das
forças que querem reinventar uma agenda de justiça social e ampliar o protagonismo
dos setores populares. Isso pode propiciar uma nova cultura política
progressista. Desde que se compreenda que entre o outono e a primavera há que
saber atravessar o inverno. Sobreviver fora do poder pode ser um desafio para
quem se acostumou ao controle das máquinas. Sejam as do estado, dos partidos ou
de outras instituições. Mas pode fazer ressurgir um progressismo revitalizado
em seu acervo programático e em suas práticas. E com lideranças capazes de
fazer autocrítica e se reinventar. Neste contexto a sociedade pot inteiro está
se transformando.
Antônio Scarcela Jorge.
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