COMENTÁRIO
Scarcela Jorge
DE OLHO NOS
MARQUETEIROS
OU MARQUETEIROS
DE OLHO
Nobres:
Voltamos mais
uma vez enfatizar algo que pouco chama atenção do eleitorado, mas é atenção
prioritária para os “marqueteiros” nos pleitos eleitorais e de forma especial às
eleições de 2018. O atual modelo de propaganda não é ruim apenas porque
distorce e desinforma. Tem também outras conseqüências. Não menos deletérias.
Em primeiro lugar, seus custos são um poderoso indutor da corrupção. As
candidaturas majoritárias são pressionadas a arrecadar a fim de pagar as contas
gordas dos marqueteiros. O mercado de compra de apoio partidário gira em torno
do tempo de TV e rádio. Mas também de recursos para produzir os programas
eleitorais. Tudo isso alimentando a corrupção, muitas vezes a partir da
ocupação de cargos com poder de induzir fornecedores a contribuir com as
campanhas. Em segundo lugar, esse modelo dos marqueteiros predominando nas
campanhas inibe a formulação de políticas alternativas e de soluções criativas.
Favorece a reprodução cômoda do senso-comum. Diminui o potencial transformador
da política. As soluções para os problemas nacionais deixam de ser apresentadas
pelas forças vivas da sociedade e pelos estudiosos. Muitas das propostas dos
guias eleitorais não passam de fórmulas vazias e superficiais criadas por
marqueteiros. Que, não raro, carecem de conexão real com a sociedade, para não
falar de preparo intelectual. Por isso são tão facilmente exportáveis para
outros estados, regiões e até países. Aliás, a exportação do ‘marketing’ político brasileiro tem contribuído para
manchar a imagem do Brasil no mundo. O envolvimento de grandes construtoras
brasileiras com a corrupção em países da América Latina e África comumente foi
de par com empresas brasileiras de ‘marketing’. Não obstante, o foco das
investigações tem se concentrado em políticos e empresários, sendo poupados
alguns marqueteiros notórios. Surpreende essa desatenção com um dos
setores das campanhas por onde os recursos ilícitos mais transitam o que pode
continuar a alimentar o fenômeno na campanha eleitoral que se avizinha. Talvez
isso explique o sorriso irônico da mulher do marqueteiro quando foi submetida a
uma brevíssima passagem pelas prisões da Lava-Jato. Com tanto poder, imaginava
que logo-logo estaria livre para usufruir dos milhões desviados para suas
contas no exterior. Pode-se pensar outro modelo de propaganda eleitoral. Que
preserve a autenticidade para servir de contraponto às ‘Fake News’. Ao invés
das superproduções, o horário poderia ser ocupado pelos candidatos
pessoalmente, em estúdios. Que apresentem sua história, valores, idéias e
compromissos. Sem os disfarces e fantasias produzidos pelos marqueteiros, o
guia eleitoral poderia, aí sim, ajudar as escolhas dos eleitores.
Antônio Scarcela Jorge.
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