COMENTÁRIO
Scarcela Jorge
MARQUETEIROS ELEITORAIS
Nobres:
No
ano eleitoral é regra neste Brasil mudar opiniões dos eleitores, antecipar
resultados tendo como prioridade para os marqueteiros se notabiliza em função
das candidaturas a devida pugna eleitoral. Na teoria é bom ressaltar que a
propaganda eleitoral destina-se a apresentar as personalidades e os programas
de governo aos eleitores. Ao lado de outras ferramentas de comunicação, ela é essencial
para acionar o mecanismo da representação política. Mormente em democracias de
massa de países continentais como o nosso. Sem ela, pode aumentar o
desconhecimento dos representantes pelos representados. Sem ela, pode-se
ampliar o fosso entre o que pensam os representantes e o que desejam os
eleitores. A propaganda eleitoral, que tem no horário gratuito de rádio e tv o
seu momento culminante, justifica-se, portanto, para ajudar as escolhas dos
candidatos e programas pelos representados. Diferentemente de países como os
EUA, em que os anúncios de TV são pagos, no Brasil concebeu-se um mecanismo
para atenuar a desigualdade de poderio econômico dos representantes de
diferentes setores da sociedade. Por isso, a distribuição do tempo gratuito é
feita com base na força eleitoral dos partidos. Permite-se que um setor da
sociedade, ainda que sem poderio econômico, possa apresentar seus candidatos e
programas se tiverem representatividade. Mas na prática a gratuidade de espaço
nos meios de comunicação é apenas uma faceta do processo. Quando se examina o
lado da produção do conteúdo, a gratuidade desaparece. As superproduções nada
têm de niveladoras dos diferentes candidatos. Seus custos de dezenas de milhões
de reais não podem ser suportados pelos setores político-sociais não abastados.
Nessa etapa da produção de conteúdo, reproduz-se a concentração de renda e
poder dos diferentes atores da sociedade. Para que se refunda nosso sistema político, não custa revisitar os fundamentos
da relação entre representantes e representados. Por isso, hoje o país tanto
discute uma reforma política. Surgem propostas como fim das coligações, voto
distrital misto, semi-presidencialismo, parlamentarismo, voto facultativo,
entre outros, mas baseado em interesses do corporativismo comum desta infecta
classe política. Imaginam-se fórmulas para baratear as campanhas e, por
consequência, reduzir a corrupção. Já se proibiram outdoors, festas e cartazes.
Com pouco efeito nos custos das campanhas que continuaram astronômicos.
Sobretudo porque o senso comum de muitos políticos aceita o aforismo de que ‘um
bom marketing é meio caminho para a vitória’. Com orçamentos estratosféricos,
os marqueteiros produzem filmetes que são peças de ficção. Os personagens reais
são embalados como um produto do supermercado. A finalidade original de
facilitar o conhecimento das candidaturas é subvertida. Produz-se o (dês)
conhecimento, o falseamento da realidade. Candidatos que têm ojeriza a pobre
são vendidos como se dele gostasse. Péssimos gestores são transmudados em
grandes gerentes da coisa publica. Autoritários tornam-se democratas. Corruptos
viram moralizadores da vida pública. Subverte-se ao extremo a finalidade
originária da propaganda eleitoral. Ao invés de informar, desinforma-se. Ao
invés de aproximar os candidatos dos eleitores, aumenta-se o fosso que erode a
democracia. É surpreendente, pois, que pouco se fale sobre esse que é o maior
custo das campanhas: a produção dos programas eleitorais. Os candidatos devotam
uma energia imensa para obter os recursos para pagar os marqueteiros. Que têm
margem de lucro impensável em qualquer outra atividade econômica. Aliás, na
mesma. Duvida-se que tenham as mesmas margens de lucros em campanhas
publicitárias feitas para produtos de um supermercado. Com tanto lucro e poder,
enveredam pela corrupção antes e depois das eleições. E assim vão reproduzindo
a “não funcionalidade” do sistema político. E abarrotando suas contas
bancárias. O País, ou melhor, a sociedade cidadã, vem arcando com a
irresponsabilidade de políticos corruptos neste segmento.
Antônio Scarcela Jorge.
Excelente artigo; esclarecedor e imparcial. Só quero enfatizar que, para cumprir de fato o objetivo a que se propõe, o tempo de tv e rádio da propaganda eleitoral gratuita deveria ser igual para todos os candidatos.
ResponderExcluir