COMENTÁRIO
Scarcela
Jorge
FARSANTES DA PERSONALIDADE
Nobres:
Na realidade vivenciada no
momento é que no Brasil, boa parte dos partidos e líderes que ainda se dizem de
esquerda perderam-se numa retórica vazia, sem contrapartida prática, gerando
uma profunda decepção em quem se formou no ideário solidário e generoso da
esquerda genuína. A decepção começou pela ação de partidos, principalmente o
PT, que nasceu sob a promessa de lisura e honestidade, derrapou em vários
artigos do Código Penal e lamentavelmente terminou se limitando a repetir
mantras em defesa do Grande Líder, enrolado até os cabelinhos das sobrancelhas
com mensalões, petrolões, sítios, tríplex e o escambai. Agora, que Lula sofreu
no tribunal mais uma derrota classificada pela imprensa nacional e
internacional de acachapante (e foi mesmo), o mantra se repete,
insuportavelmente. Não se entende como um partido com uma história como a do PT
não tenha tido competência para produzir discurso novo, arejado, convincente,
capaz de escapar da narrativa do golpe (inexplicavelmente o partido não defende
a volta de Dilma, a injustiçada, será por quê?). Perseguição tornou-se uma
palavra que serve para explicar tudo e mais alguma coisa. Ninguém é mais
perseguido do que Lula. Cercado de Palocci, Vaccari, Dirceu e André Vargas, são
únicos ‘seres humanos’ a não ter nada com coisa alguma, pelo que se lê nas
notas, discursos e outras manifestações do comando petista. Resiste impávido,
em odor de santidade, sobrevivendo entre os ímpios. Seria vítima de implacável
perseguição por um extraordinário e espetacular complô de golpistas formado
pelos poderes executivo, judiciário e legislativo, pela polícia federal, pelo
ministério público, pela mídia golpista, pelas elites brasileiras, pelo império
norte-americano e o que mais couber neste complô. Nunca antes na história deste
ou de qualquer país se conheceu complô tão vasto, tão amplo e tão bem
articulado. Reféns do Grande Líder, os sublíderes petistas insistem em bater na
tecla surrada: Lula teria sido condenado sem provas, Sérgio Moro seria um
agente infiltrado da CIA, tudo estaria sendo urdido com a única finalidade de
impedir que seja candidato a presidente. E os abestados acreditam nos amantes
corruptores e que também são corruptos em toda espécie. Convenhamos: chega a
ser patético. Cansativo. Irritante. Até porque, da direita que assola o país,
com Temer à frente, nunca se esperou outra coisa além das canalhices noticiadas
dia sim e outro também. Os bandidos emedebistas, tucanos que estão indo para o
xilindró ou para prisões domiciliares são velhos conhecidos. O PT, por sua vez,
se esquece por conveniência que é o pai legítimo de Temer. Sim, pois foi o PT
que o escolheu para ser vice de Dilma. Os petistas que votaram nela votaram
nele. Repita-se, apenas com outras palavras, para não haver dúvidas: Temer, o
vampiro, foi eleito vice-presidente da República pelo PT. É filho legítimo,
registrado em cartório pelo PT. Ultimamente, alguns eleitores do PT de Lula
começaram a perceber a derrocada moral do Grande Líder. As redes sociais andam
abarrotadas de lulistas arrependidos, tristes, desapontados, decepcionados.
Perceberam que não dá mais pra acreditar na retórica da perseguição. Acordaram.
Mas a direção do partido não consegue tirar os antolhos e ver o que se passa ao
lado. E olha que o PT nasceu sob as luzes fulgurantes da esperança, quando o Brasil
saía das trevas dos governos militares.
Foi anunciado numa festa linda que rapidamente conquistou quem sonhava com um
país limpo da corrupção, comprometido com a justiça social, contra o
patrimonialismo, sem os vícios da velha política. Se retomar o espírito
original de sua criação, o PT ainda pode sonhar em ser o grande partido da
classe trabalhadora brasileira. Isso é difícil, porque começa por um sincero
exame de consciência, pelo reconhecimento dos erros e pela retomada do seu
ideário original. Em poucas palavras: o PT precisa deixar de ser refém de Lula.
Precisa se reinventar, deixar de acreditar em centenas de seus adeptos entre
eles um sortudo deputado que até hoje escapou da prisão, no que seu irmão não
teve a mesma sorte em aliar-se a essência corrupta de Lula. Como, de resto, a
esquerda como um todo precisa de renovação de discurso e de práxis. Basta ver
como já não empolga nem seduz. Enfrenta sua pior crise. Enquanto isso, os
conglomerados de centro-direita a cada dia assustadoramente ganham mais espaço
no mundo inteiro. Hoje, os sublíderes petistas estão pendurados por conveniência
num discurso forçado em defesa do “Grande Líder”. Sem ele sabem que seu futuro
político pode dar com os burros no brejo. Tudo isso permite que o lulismo é a
doença infantil do petismo. Tudo caminha para isso.
Antônio Scarcela Jorge.
Nenhum comentário:
Postar um comentário