terça-feira, 7 de agosto de 2018

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - TERÇA-FEIRA, 7 DE AGOSTO DE 2018


COMENTÁRIO­
Scarcela Jorge

FARSANTES DA PERSONALIDADE

Nobres:
Na realidade vivenciada no momento é que no Brasil, boa parte dos partidos e líderes que ainda se dizem de esquerda perderam-se numa retórica vazia, sem contrapartida prática, gerando uma profunda decepção em quem se formou no ideário solidário e generoso da esquerda genuína. A decepção começou pela ação de partidos, principalmente o PT, que nasceu sob a promessa de lisura e honestidade, derrapou em vários artigos do Código Penal e lamentavelmente terminou se limitando a repetir mantras em defesa do Grande Líder, enrolado até os cabelinhos das sobrancelhas com mensalões, petrolões, sítios, tríplex e o escambai. Agora, que Lula sofreu no tribunal mais uma derrota classificada pela imprensa nacional e internacional de acachapante (e foi mesmo), o mantra se repete, insuportavelmente. Não se entende como um partido com uma história como a do PT não tenha tido competência para produzir discurso novo, arejado, convincente, capaz de escapar da narrativa do golpe (inexplicavelmente o partido não defende a volta de Dilma, a injustiçada, será por quê?). Perseguição tornou-se uma palavra que serve para explicar tudo e mais alguma coisa. Ninguém é mais perseguido do que Lula. Cercado de Palocci, Vaccari, Dirceu e André Vargas, são únicos ‘seres humanos’ a não ter nada com coisa alguma, pelo que se lê nas notas, discursos e outras manifestações do comando petista. Resiste impávido, em odor de santidade, sobrevivendo entre os ímpios. Seria vítima de implacável perseguição por um extraordinário e espetacular complô de golpistas formado pelos poderes executivo, judiciário e legislativo, pela polícia federal, pelo ministério público, pela mídia golpista, pelas elites brasileiras, pelo império norte-americano e o que mais couber neste complô. Nunca antes na história deste ou de qualquer país se conheceu complô tão vasto, tão amplo e tão bem articulado. Reféns do Grande Líder, os sublíderes petistas insistem em bater na tecla surrada: Lula teria sido condenado sem provas, Sérgio Moro seria um agente infiltrado da CIA, tudo estaria sendo urdido com a única finalidade de impedir que seja candidato a presidente. E os abestados acreditam nos amantes corruptores e que também são corruptos em toda espécie. Convenhamos: chega a ser patético. Cansativo. Irritante. Até porque, da direita que assola o país, com Temer à frente, nunca se esperou outra coisa além das canalhices noticiadas dia sim e outro também. Os bandidos emedebistas, tucanos que estão indo para o xilindró ou para prisões domiciliares são velhos conhecidos. O PT, por sua vez, se esquece por conveniência que é o pai legítimo de Temer. Sim, pois foi o PT que o escolheu para ser vice de Dilma. Os petistas que votaram nela votaram nele. Repita-se, apenas com outras palavras, para não haver dúvidas: Temer, o vampiro, foi eleito vice-presidente da República pelo PT. É filho legítimo, registrado em cartório pelo PT. Ultimamente, alguns eleitores do PT de Lula começaram a perceber a derrocada moral do Grande Líder. As redes sociais andam abarrotadas de lulistas arrependidos, tristes, desapontados, decepcionados. Perceberam que não dá mais pra acreditar na retórica da perseguição. Acordaram. Mas a direção do partido não consegue tirar os antolhos e ver o que se passa ao lado. E olha que o PT nasceu sob as luzes fulgurantes da esperança, quando o Brasil saía das trevas dos governos  militares. Foi anunciado numa festa linda que rapidamente conquistou quem sonhava com um país limpo da corrupção, comprometido com a justiça social, contra o patrimonialismo, sem os vícios da velha política. Se retomar o espírito original de sua criação, o PT ainda pode sonhar em ser o grande partido da classe trabalhadora brasileira. Isso é difícil, porque começa por um sincero exame de consciência, pelo reconhecimento dos erros e pela retomada do seu ideário original. Em poucas palavras: o PT precisa deixar de ser refém de Lula. Precisa se reinventar, deixar de acreditar em centenas de seus adeptos entre eles um sortudo deputado que até hoje escapou da prisão, no que seu irmão não teve a mesma sorte em aliar-se a essência corrupta de Lula. Como, de resto, a esquerda como um todo precisa de renovação de discurso e de práxis. Basta ver como já não empolga nem seduz. Enfrenta sua pior crise. Enquanto isso, os conglomerados de centro-direita a cada dia assustadoramente ganham mais espaço no mundo inteiro. Hoje, os sublíderes petistas estão pendurados por conveniência num discurso forçado em defesa do “Grande Líder”. Sem ele sabem que seu futuro político pode dar com os burros no brejo. Tudo isso permite que o lulismo é a doença infantil do petismo. Tudo caminha para isso.
Antônio Scarcela Jorge.


Nenhum comentário:

Postar um comentário