COMENTÁRIO
Scarcela
Jorge
A SEMANA SANTA
Nobres:
Vamos tão
somente contemporizar o sentido único na história. Fato que nunca aconteceu
antes nem tornará a acontecer. Só aconteceu uma única e solitária vez. Por isso
mesmo, é o fato absolutamente decisivo e tão decisivo que nos interpela e exige
de nós uma posição. Depois de três anos de íntima convivência, em
que assistiram a alguns milagres espantosos praticados por aquele mestre que os
convocara inexplicavelmente e dele aprenderam lições surpreendentes e
notavelmente superiores, muito além de tudo quanto a sabedoria humana viera
construindo ao longo dos tempos, aqueles anos sublimes acabaram de repente com
a realidade brutal da prisão, condenação e morte, pregado numa cruz. O mestre,
que tanto os encantava, estava indiscutivelmente morto. E eles, os discípulos,
amargamente desiludidos. Três dias depois, porém, o morto ressuscitou. Pode-se
imaginar o que é isso? Ver ressuscitado, indubitavelmente ressuscitado, alguém
que morrera, indubitavelmente morrera, e que eles, segundo o costume, haviam
depositado num túmulo aberto na rocha? O que faríamos nós diante de semelhante
maravilha? É claro que os apóstolos ficaram fascinados, completamente tomados
de entusiasmo por aquele que os reunira e os viera instruindo e agora, ao cabo,
fora morto, mas espantosamente ressuscitara. Não somente ele era diferente de
todos os outros homens (o que eles já achavam que era), contudo era
superpoderoso, a ponto de se desprender da morte por conta própria, fazer
consigo mesmo o que fizera com alguns outros mortos, Lázaro, por exemplo,
poucos dias antes e aquilo, a ressurreição de Lázaro, já era portento
inacreditável, quanto mais o próprio morto, por sua própria força (como, força
de um morto?), levantar-se da morte! Donde, Ele era de fato Deus, o filho de
Deus, como dissera aquele que falava “Abba”, paizinho, e dizia “quem me vê, vê
o Pai”, e de si mesmo assegurara: “Eu sou a ressurreição e a
vida”. Portanto, Deus mesmo, vivo e verdadeiro, estivera com eles, três
anos eles haviam passado na amizade, na proximidade, de Deus! Não podiam ter
dúvida alguma dessas duas verdades absolutas: o Mestre de fato falecera pregado
numa cruz; e três dias depois reaparecera, vivíssimo, e passara com eles mais
40 dias, e não era nenhum fantasma, mas concreto e real, como eles próprios, no
qual podiam tocar, e que falava e comia com eles. Não têm, não podem existir
aqueles discípulos, outra coisa a fazer doravante senão sair anunciando esse
acontecimento, o único acontecimento. Dar testemunho. Gritar, por toda parte, a
todas as gentes, que Deus esteve entre nós. Enfim, fazer o que o mestre mesmo
mandara: irem por toda a terra, batizar todos os povos, a todos levar a boa
nova. E admitirão ser mortos como ele foi e não terão mais nenhum medo da morte
porque sabem que Jesus ressuscitou. A salvação dos homens, a reconciliação com
Deus, foi o sacrifício da cruz que fez. O que a ressurreição faz é não deixar
dúvida nenhuma sobre a identidade dele. Ela é essencial para a nossa fé. Como
dizia São Paulo: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé”. Ela é o fato
único e inigualável da história: Jesus Cristo ressuscitou dentre os mortos. Sim
ele será o único.
Antônio Scarcela Jorge.
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