domingo, 28 de abril de 2019

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - DOMINGO 28 DE ABRIL DE 2019


COMENTÁRIO
Scarcela Jorge
GRAUS CONJECTURA
DOS E AJEITA
DOS

Nobres:
No período de instabilidade moral que vivenciamos, o nosso país constituiu uma nova valência política para o sofrimento, deslocando seu circuito de afetos do medo e da inveja, típicos da cultura de condomínio, para o ódio e a intolerância. O investimento na indiferença e na individualização do sofrimento é agora colhido na forma da violência. Reagimos a isso empobrecendo nossa imaginação política, apelando por mais e melhores leis, por instituições mais fortes e mais duras ou ainda por líderes melhores e mais poderosos. Há outra resposta possível. Trata-se de advogar uma política menor, que começasse no cotidiano miúdo da recuperação da escuta e da fala e que seja capaz de reinventar a experiência da intimidade como partilha do desconhecido. Um retorno dessa paixão pela ignorância criadora tem como tarefa reverter a ascensão do novo irracionalismo brasileiro e sua alergia de arte, cultura e debate intelectual. Contra a soberba dos convictos e a guerra das identidades que fermentam um fundamentalismo à brasileira é preciso uma retomada do comum. Descobrir que o mais íntimo está fora de si. Lembrar que nossa identidade não é o último capital humano que nos resta. Ela começa pelo reconhecimento do comum e da intimidade. Diante do imperativo de felicidade e do conformismo de uma vida em estado de risco, exceção e sobrevivência, é preciso levar mais a sério o potencial transformativo dos que sofrem. Reconhecer o fragmento de verdade que existe nas contradições. O universal são as exceções, porém a ansiedade não torna ninguém pior, ou melhor, por si mesmo. Em síntese precisamos de outra política uma escolha ética e também política.
Antônio Scarcela Jorge.

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