COMENTÁRIO
Scarcela
Jorge
GRAUS CONJECTURA
DOS E AJEITA
DOS
Nobres:
No
período de instabilidade moral que vivenciamos, o nosso país constituiu uma
nova valência política para o sofrimento, deslocando seu circuito de afetos do
medo e da inveja, típicos da cultura de condomínio, para o ódio e a
intolerância. O investimento na indiferença e na individualização do sofrimento
é agora colhido na forma da violência. Reagimos a isso empobrecendo nossa
imaginação política, apelando por mais e melhores leis, por instituições mais
fortes e mais duras ou ainda por líderes melhores e mais poderosos. Há outra
resposta possível. Trata-se de advogar uma política menor, que começasse no
cotidiano miúdo da recuperação da escuta e da fala e que seja capaz de
reinventar a experiência da intimidade como partilha do desconhecido. Um
retorno dessa paixão pela ignorância criadora tem como tarefa reverter a
ascensão do novo irracionalismo brasileiro e sua alergia de arte, cultura e
debate intelectual. Contra a soberba dos convictos e a guerra das identidades
que fermentam um fundamentalismo à brasileira é preciso uma retomada do comum.
Descobrir que o mais íntimo está fora de si. Lembrar que nossa identidade não é
o último capital humano que nos resta. Ela começa pelo reconhecimento do comum
e da intimidade. Diante do imperativo de felicidade e do conformismo de uma vida
em estado de risco, exceção e sobrevivência, é preciso levar mais a sério o
potencial transformativo dos que sofrem. Reconhecer o fragmento de verdade que
existe nas contradições. O universal são as exceções, porém a ansiedade não
torna ninguém pior, ou melhor, por si mesmo. Em síntese precisamos de outra
política uma escolha ética e também política.
Antônio Scarcela Jorge.
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