COMENTÁRIO
Scarcela Jorge
PARTIDOS POLÍTICO NO BRASIL GERA
CONTRADIÇÃO ENTRE PESSOA E IDEIA
Nobres:
É utopia
ou hipocrisia sustentar que a democracia é possível sem partidos políticos à
democracia é necessária e inevitavelmente um Estado de Partidos. Estamos implicitamente
formando a ideia do pluralismo democrático representativo, principalmente em
sociedades cada vez mais complexas. Tome-se partido como sinônimo de
organização, ideologia e programa. É visão natural de quem viveu em ambiente
cultural com instituições democráticas e consolidadas. Ou seja, partido com o
propósito de efetivamente representar a vontade popular, com vistas à formação,
planejamento e implementação de políticas públicas. A descrever vários
cientistas políticos no mundo consideram essas organizações apenas como meio de
proporcionar aos seus dirigentes no seio do Estado e aos seus militantes
oportunidades imaginados e materiais de realizarem objetivos preciosos ou obterem
vantagens pessoais. No Brasil, conquanto desde o início da República tenha se
formado o consenso sobre a importância de eleições como peça fundamental da
organização política e consolidação da democracia, paradoxalmente, na sua
grande maioria, os partidos políticos continuam sendo conduzidos dentro de um
sistema inteiramente cartorial. Eleições acabam se tornando um confronto entre
pessoas e não de ideias. Os programas partidários não passam de letras mortas.
E, no mais das vezes, os nossos graves problemas sociais e econômicos, cujas
soluções são apresentadas no curso do processo eleitoral, acabam esquecidas no
dia seguinte à vitória. Raros são aqueles que perseveram nos compromissos
assumidos. Dentre tantas razões para explicar essa situação partidária
nacional, penso que uma cabe maior destaque: a formação dos partidos dentro de
uma visão patrimonialista de sociedade, em que os ocupantes de posições
públicas de relevância jamais fizeram a necessária e fundamental distinção
entre os domínios do privado e do público. Ou seja, a gestão política acaba por
se transformar em assunto de interesse particular. A começar pela escolha de
auxiliares, quando reiteradamente prevalece a confiança de quem indica do que a
capacidade profissional e moral dos que devem ocupar os cargos e as funções.
Recente registrou-se da mídia nacional ao demonstrar como essa situação ainda
está longe de ter um fim. Isso porque, acaba de ser encerrada a temporada de
troca de partido. Foram milharem de políticos que mudaram de agremiação. Em
muitos casos em total contradição entre a ideologia e o programa do partido de
saída e do de chegada. Na Câmara dos Deputados 80 parlamentares passaram de
legenda, o equivalente a 16% do total de 513. Como registrou a imprensa, nenhum
caso teve motivação ideológica, mas tudo a ver com a disputa pelos recursos
disponíveis para financiamento das campanhas. Resta esperar indubitavelmente
que o fisiologismo desavergonhado, a permissividade da legislação e a
pulverização do poder no Parlamento terão consequências para o atual e o governo
que vier a sucedê-lo. Esse quadro, que nos envergonha enquanto nação mostra o
quanto precisa mudar em termos de organização partidária o país que possui o
quarto maior eleitorado do planeta, perdendo apenas para Índia, Estados Unidos
e Indonésia. É mais um dito “escândalo sintético e amoral” que rotineiramente ocorre
na política brasileira.
Antônio Scarcela Jorge.
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