COMENTÁRIO
Scarcela JorgePOLÍTICOS CALCULISTAS E CORRUPTOS TENDE CRIAR MAIS LEGENDAS PARTIDÁRIAS.
Nobres:
Parece no momento não ter jeito os parlamentares, abençoados pela
maioria do povo que preserva alguns de seus interesses no que é notório. Neste contexto
é inacreditável, para não dizer intencionalmente desavergonhada, a tentativa da
nossa classe política para manter as coisas como estão, num momento em que a
sociedade brasileira se mobiliza justamente para mudar tudo isso que aí está.
Ora, uma das mazelas mais explícitas do nosso sistema eleitoral, solidificada
ao longo de toda a nossa história, é o caciquismo, o coronelismo, o mando de
campo dos nossos partidos por lideranças, grupos políticos e famílias que vêm
se eternizando no poder. Beneficiados pelas verbas partidárias e pelo
financiamento das campanhas políticas (o cerne da maior operação de combate à
corrupção no país, a Lava Jato), os controladores dos partidos elegem seus
apaniguados sem qualquer respeito à democracia interna, renovação de líderes ou
idoneidade dos candidatos. Os
controladores dos partidos elegem seus apaniguados sem qualquer respeito à
democracia interna, Na outra ponta desse sistema estão as dificuldades
absurdas, quase instransponíveis, que qualquer brasileiro comum, sem sobrenome
ilustre, poder econômico ou religioso, enfrenta ao optar por candidatar-se a um
cargo eleitoral, de vereador a presidente da República. A lista fechada
proposta pelo relator da reforma política vem simplesmente legalizar e
oficializar esse engodo, que vai distanciar ainda mais o eleitor do seu
candidato e a população, de suas lideranças preferenciais. Pior: é feita sob
medida para manter no comando político-partidário as atuais lideranças
atingidas pelas denúncias da Lava Jato e por outras operações de combate à
corrupção, já que estarão protegidas pelo manto das respectivas legendas. O
aprimoramento da nossa jovem democracia passa pela transparência plena do
processo eleitoral, a começar pelos partidos políticos, que é onde se aprende a
defender idéias, a pensar em grupo, a decidir em equipe e, principalmente, a
sacrificar o individual em nome do coletivo. Nunca em nome do mandatário-mor,
nem do fundador ou do “dono” da legenda. Como sociedade civil organizada,
devemos nos mobilizar nesse momento junto aos nossos parlamentares para evitar
mais essa armadilha que irá contra as mudanças preconizadas por todo o povo
brasileiro. É o direito de escolha que está em jogo. E sem esse direito, mesmo
correndo o risco de errar, nenhum povo amadurece para a autonomia e a
interdependência, elementos essenciais da democracia. Entidades paranaenses vêm
debatendo a reforma política há mais de 15 anos, com sugestões específicas como
a fidelidade partidária e a cláusula de barreira, ou de desempenho – esta
última já aprovada em PEC no Senado. Nosso objetivo maior é o fortalecimento da
democracia via partidos políticos com programas abrangentes e representativos.
Se a Câmara aprovar a cláusula de barreira, dos atuais 27 partidos políticos
com representação parlamentar, teríamos 13 ou 14, o que atingiria plenamente o
arco ideológico da sociedade brasileira, tanto à esquerda como à direita. Sem a
cláusula de desempenho, e com os atuais pedidos de registro no TSE, chegaríamos
a 50 ou mais legendas. Que governabilidade resistiria a um parlamento tão
fragmentado? E numa eleição, com 50 partidos apresentando listas fechadas de
candidatos, como o eleitor irá se situar, como vai separar o joio do trigo? A
reforma política passa por todas essas questões e, sem transparência e um
franco debate com a sociedade, corremos o sério risco de mudar tudo para não
mudarmos nada. A tônica da nova república abençoada por Sarney e no momento a
Temer, resultará a proliferação de partidos políticos objetivando as relações
empreiteiras e o mundo corrupto do Brasil.
Antônio Scarcela Jorge.
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