COMENTÁRIO
Scarcela
Jorge
PERSPECTIVA
GRADUADA
Nobres:
A realidade está talhada e desveste aos olhos de todos e o resultado é
um só: - a teimosia permanente evidencia de quem nunca aprendeu a flagrante
desconexão da política com a lógica da vida dificulta a viabilidade do diálogo
como via eficaz da sociedade. No entanto as democracias contemporâneas são
caracterizadas por governos que não governam anêmicos parlamentos ineficientes
e um sistema judicial atolado na morosidade crônica. O fato é que o equilíbrio
político contemporâneo é absolutamente instável. Os impulsos sociais latentes enraizados
em um profundo e angustiante senso de descontentamento coletivo são capazes de
transformar faíscas em chamas num simples relance de olhar. Em tempos nervosos,
erráticos e impulsivos, há que se ter cautela, cálculo e ponderação máxima,
pois um mínimo movimento impensado pode ser o gatilho da irracionalidade radical.
A atual sociedade vigiada agrava os desafios da função: mais do que olhos,
existem câmeras por toda parte, registrando em cores, alto e bom som, as palavras
ditas e os semblantes feitos, privacidade é hoje um artigo de luxo. E não
adianta se indignar com a exposição multimídia; a evolução tecnológica nos
trouxe até aqui e, gostemos ou não, veio para ficar e o “pulo do gato” está, justamente,
em saber navegar neste novo mundo, potencializando suas virtudes exponenciais
e, paralelamente, minorando seus defeitos catastróficos. Para tanto, o recurso
da boa retórica política retoma sua essencialidade prática, pois sem clareza
expressiva e tato emocional é impossível tocar o coração das pessoas.
Naturalmente, a linguagem do presente repudia as monótonas erudições do ontem;
aqueles discursos longos e exaustivos são completamente incompatíveis com a
velocidade da vida moderna; além do impacto emocional, a palavra política deve
ser um chamado de engajamento público e um comando de esperança no futuro. Ora,
quando vai a campo, o povo quer ver gol, vibrar com jogadas espetaculares,
admirar e bater palmas àqueles que honram a camiseta. Mas não basta apenas
jogar bem; há que se ter “fair play”, pois a corrupção seja ela qual for é algo
deplorável, humilhante e decadente. Então, o esquema tático está pronto, mas
será que os jogadores entenderam alguma coisa? Neste estágio onde a sociedade
ética se torna perplexa diante deste cotidiano tomado pela marginalidade
predominante da política até agora contraditório em espécie: raciocinamos
enquanto há tempo.
Antônio
Scarcela Jorge.
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