COMENTÁRIO
Scarcela Jorge Nobres:
Desde o ano de 1946 a 1964, o Brasil viveu experiência democrática ainda
hoje lembrada com saudade. Em 1964 houve a intervenção militar, que a maioria
da população aplaudiu, mas de que, depois, a partir de 1974, se cansou. Longa e
árdua foi à jornada para conseguir a restauração da ordem democrática e civil.
Quem viveu aqueles tempos lembra, com emoção, os embates dessa jornada, desde as
‘anti-candidaturas’ a campanha das Diretas Já, a anistia, a imensa revisão do Brasil
que foi a Constituinte. Da nova Constituição, de 1988 para cá, já são quase 30
anos de experiência democrática, muito maior do que o período exemplar de 1946
(apenas 18 anos). E agora, perplexa, a nação pergunta sobre o que fizeram do
país os políticos civis por cuja volta ao poder tanto lutou. Outro dia, um
ousadíssimo declarou, atrás das grades em que se encontra que o Juiz Sergio Moro
quis acabar com a classe política e conseguiu. É cínico e mentiroso. Quem é
responsável pelo nojo que a nação sente hoje pela classe política são,
claramente, os próprios políticos as quais ressalvadas admiráveis exceções vêm
adotando comportamentos descarados e são, dentre os ladrões, os piores.
Assaltaram órgãos públicos: Petrobras, BNDES, fundos de pensões. Conluiaram-se
com empresas privadas poderosas para desviar dinheiro público; Odebrecht,
JBS... Inventaram formas rebuscadas de corrupção “arenas” para a Copa do Mundo
(esta também roubada), investimentos em países de terceiro mundo, de
deficientes sistemas de controle. Instituíram roubalheira gigantesca e
generalizada, sistemático e espantoso sistema de propinas nunca antes visto na
história brasileira. Não pensam senão, o tempo todo, em obter malas de dinheiro
a mais. E, descarados, ainda querem aprovar uma legislação para que, apanhados
na corrupção, sejam tão somente obrigados a devolver o dinheiro, sem serem
presos. Não há paralelo, na história mundial, de tamanha desfaçatez, tão
asqueroso atrevimento. Ora, de fato, para eles, prisão é muito pouco. Até
prisão perpétua é pouco – por que a nação toda deveria pagar para manter, na
prisão, esses patifões. Tão fabulosa é a quantidade de dinheiro roubado que há
que concluir que o Brasil é realmente muito rico. Capaz de subsistir apesar de
tantos milhões assim surrupiados dos cofres públicos. É claro que esse desvio
criminoso implicou na preterição de muito investimento necessário e de muitos
programas sociais, e, portanto, na perpetuação da pobreza e da injustiça. Mas é
evidente que um país do qual podem ser subtraídas as quantias astronômicas que
foram desviadas, é país muito rico. O pior é o que fizeram com a democracia.
Não tem esses corruptos, a menor noção da importância que representa, para a
vida comum, para todos os cidadãos honrados, a só existência e funcionamento
das casas legislativas. Desmoralizados, desmoralizaram a política e os
parlamentos, fazem o povo desacreditar das instituições e colocam em risco a
própria democracia e os direitos e a liberdade de cada um de nós.
Antônio Scarcela Jorge.
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