COMENTÁRIO
Scarcela JorgeDEMOCRATIZAR A DEMOCRACIA.
Nobres:
Há uma clara inquietação nas diferentes democracias pelo mundo. Refletir
que cada indivíduo tem o direito de opinar sobre os seus destinos políticos,
independentemente de sua religião, cor, gênero, posses, posição social e assim
por diante é um grande alento considerando a gestão da política em termos
históricos. Porém, ao longo do tempo, a democracia parlamentar, que é como em
geral a democracia é exercida pelo mundo, foi deixando alargar a distância
entre representantes e representados. Hoje, para o cidadão comum, decidir seu
destino político resume-se basicamente a apertar duas teclas e o botão
confirma. Como resultado, percebe-se na democracia hoje ocorre entre quatro
paredes: os fundos, duas paredes laterais e uma quarta parede. Esta expressão
teatral nomeia a parede invisível e imaginária que separa atores e platéia, o universo
das personagens da vida real e, em última análise, a ficção e a realidade. É o
não contestar a existência desta quarta parede que faz com que a platéia
simplesmente assista à cena sem interferir; e mais: que os atores como se
aquela ali não estivesse presente. O mesmo precisa ocorrer com a democracia.
Não se trata de acabar com a democracia parlamentar, longe disso, apesar disso,
é preciso que os cidadãos deixem de ser tratados como meros espectadores do
processo democrático e que a interação vá para além do vaiar e aplaudir e
contemplar. É preciso quebrar a quarta parede da democracia. Um caminho é
democratizar a democracia abrindo-se mais espaços para que os cidadãos,
enquanto indivíduos, possam diretamente decidir questões ligadas às suas vidas.
No passado, a dificuldade para ter várias pessoas em um único local debatendo
era enorme. Contudo, hoje há tecnologia disponível para que milhões reúnam-se,
discutam e votem sobre temas dos seus interesses. Cada pessoa com um celular ou
acesso a um computador, por exemplo, tem uma urna de votação em potencial nas
mãos. É preciso caminhar para uma democracia de maior intensidade. Mais
abertura à participação cidadã certamente resultaria em uma alocação e execução
de recursos mais condizente com as necessidades e anseios da população. Ao
contrário de outros regimes políticos, crises na democracia superam-se somente
com mais democracia ao oposto do que muitos afirmam de modo radical.
Antônio Scarcela Jorge.
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